É
comum que pessoas atribuam a si fatos heroicos e importantes que não tenham
ocorrido, ou se aconteceram, acrescentam detalhes para a nobreza da ação para
supervalorização. Natural da vaidade humana. Uns mentem e inventam, outros dão
uma dimensão que não existia. Mas de qualquer forma o que se pretende é ter a
sua imagem desenhada de forma a valorizar o participante do evento. Pretende-se
ficar na lembrança.
Lendo
a biografia de Pancho Villa pude ver que ele chamava para si façanhas que levaram
à independência do México. Ele criou situações praticamente impossíveis para
que sua imagem ficasse eternizada na história. E pelo visto ele deu conta.
Mas
há um caso muito interessante de uma figura, que nem sabemos ao certo se
existiu, e menos ainda a data certa que passou a fazer parte da história.
Existindo, ou criado, nunca se viu tantos fatos atribuídos a uma só pessoa. Se
acaso verificarmos as datas, a duração dos eventos e os demais personagens que
estavam com ele, sua idade ultrapassaria 1.000 anos!
Segundo
consta, suas primeiras aparições foram nos encontros entre filósofos e seus
pupilos. Nas lições dos sábios contava-se sua trajetória para tornar-se um
herói. Aliás, seu nome significa “Rumo ao Heroico”. Contava-se um feito e desta
parábola inventada para o caso, o mentor apresentava a seus alunos uma “moral
da história”. Assim didaticamente, dava-se as aulas aos jovens para que
tivessem um bom comportamento social, familiar, moral e ético. De fato, nada
mais importante e interessante que lições sejam transmitidas com histórias
interessantes. Historinhas que são criadas exclusivamente para aquela
finalidade acadêmica e educadora.
Mas
sua existência ultrapassou seus objetivos iniciais e o mito se materializou.
Sabemos de um caso famoso onde o personagem é confundido com pessoa real.
Sherlock Holmes é uma criação de Arthur Conan Doyle, uma fábula. Mas até
endereço certo ele tem, e há quem jure de pé junto que Holmes foi de carne e
osso.
Nosso
personagem foi assim. Na sua época há quem diga que o viu. Narrativas em
primeira pessoa dando conta de seus feitos. Uma vida lhe foi dada: seu
nascimento, juventude, casamento, tragédia familiar, e morte. Obviamente, por
ser um mito, cada um que contava um fato, lhe dava uma ótica e elementos
diferentes. A sua morte é tão controversa que os livros trazem sempre umas três
ou quatro versões para que o leitor escolha a que melhor aprouver.
Inicialmente
ele teve de cumprir uma severa pena por ter matado a esposa e filhos num acesso
de loucura. Pagou a penitência através da servidão a um rei, para o qual teve
de trabalhar. Trabalhou dez vezes, depois doze. Sua masculinidade é exemplo
para todo “macho alfa”. Não tinha medo de nada, e enfrentou leões, dragões, animais
carnívoros e vários monstros. Até mesmo mulheres e singelos animais foram
desafiadores para o mito, como mulheres líderes, gazelas e cães.
Chegaram
a dar a ele uma inteligência que não tinha: foi capaz de enganar um deus que
suportava a terra sobre seus ombros. Foi onde ninguém tinha ido: tanto na terra
dos mortos como no mundo dos deuses onde ficou como sua última morada eterna.
Exilado,
travestiu-se de mulher, e quando foi confundido com uma dama, riu muito e
gostou da piada que se tornou a história. É que o deus Cupido o viu deitado com
vestes femininas e vendo aquela figura muito encorpada, a desejou e possuiu.
Passado o caso ele não se importou em contar para todos.
Casou-se
novamente e teve filhos que lhe deram netos e continuidade na sua descendência.
Chamado
a acompanhar Jasão em busca do Velo de Ouro, levou seu amigo Hilas. Na ilha de
Misia as ninfas da água viram a linda figura de Hilas que era um dos mais belos
componentes do navio de Argo, e o capturaram. Desolado nosso herói não abandou
seu amante e ficou ali à procura de seu amor.
E
assim foi a vida de Hércules. Um verdadeiro varal de mitos sobre o mito. Até
hoje suas histórias são contadas, acrescentadas, inventadas e a eternidade
garantida. Certamente o mais amado dos mitos haverá de nos entreter muito
quando ouvirmos suas histórias.